segunda-feira, 8 de julho de 2013


No vai da valsa

Esta meio abandonado isso aqui, mas é que muitas coisas tem acontecido, e são muitas coisas para contar, e entre contar e viver, tenho escolhido viver.
 O registro tem ficado aqui comigo, gravado na mente, nos olhos embasbacados e no coração. 
As coisas na Bahia simplesmente acontecem. É preciso ter um certo cuidado com o que se deseja aqui, por que acontece. Nos últimos tempos minha vida na Bahia foi um desdobramento de sucessivos encontros que me levaram a desencontros que me levaram a encontrar coisas que nem estava procurando. Vida é realmente uma coisa muito louca, da qual ninguém pode escapar, como minha grande amiga Camila me lembrou essa semana. Quanto antes entendemos isso maior a nossa oportunidade de não perder nenhum segundo dos acontecimentos que nos cercam. O lance é que a felicidade é um flash, é um momento com vários picos, que só alcança quem esta entregue ao momento.
 As ultimas semanas foram mais ou menos assim:
Conheci uma pessoa especial, uma cineasta francesa, louca e engraçada, chamada Marion, com quem cruzei varias vezes pelo Hostel, que é quase uma comunidade, uma família na verdade, o Buddy's, casa da Laissa, Pedro, Caue e Guinter. Como todas as outras pessoas que conheço em Itacaré, cada um deles tem uma história muito curiosa que os trouxeram ate aqui, mas isso é conversa Pra um outro dia.
Como disse, cruzava com Marion sempre, e nunca trocava mais do que um oi ou um bom dia. Com alguns amigos em comum foi através dela que soube do Festival de cinema baiano, FECIBA, e de repente estava combinado que iríamos juntas para três dias em Ilhéus, para o festival.
 No festival de cinema, muitos filmes e muita gente interessante. A galera da organização do festival foi ótima. Entre as pessoas que conheci estava o Leon, cineasta do recôncavo baiano, que entre conversas nos falou sobre a festa de São João em Cachoeira, terra do samba de roda, com muitos shows durante as festividades, inclusive Alceu Valença, Gilberto Gil e o incrível Samba de Roda da Dona Dalva. E foi através do Leon, que uma semana depois estávamos na casa do seu amigo Breno, musico e cineasta em Cachoeira. Um cara muito gente boa, com um coração enorme. Dos quatro dias que ficamos na casa dele vimos várias configurações diferentes no apartamento, sempre cheio de gente, conversa e principalmente música, ininterruptamente. A coisa foi tão louca que um dia cheguei de um show, e lá da rua vi Andréia, uma artista de Salvador, pendurada na janela. Quando entrei no apartamento estava rolando um ensaio fotográfico, as três da manhã, que começou de brincadeira, mas a fotografa( que ate então nunca tinha visto antes) realmente se empolgou, enquanto as outras pessoas faziam um som do outro lado da sala. Cada dia, ou cada noite, alguém partia e alguém chegava, ou pelo menos passava. Foi uma delicia. Muitos encontros criativos naquele lugar, na música, na dança, na fotografia, na comida.  E foi assim, minha passagem por cachoeira. Pra saciar qualquer sede.
Agora, a volta de cachoeira para Itacaré, foi uma odisséia.
Quinta-feira, 30 de Junho, 17:00. Cinco pessoas sentadas na Rodoviária, minúscula, de Cachoeira. O ultimo onibus Pra Itacaré sai da cidade antes das 12:00. Isso nos ja sabíamos, so não sabíamos que não havia mais nenhum onibus na Rodoviária aquele horário seguindo sentido Sul, ou seja, não havia onibus para sair da cidade. E não tínhamos mais onde ficar, pois o Breno e o Pedro, que estavam nos hospedando, viajaram naquele mesmo dia.
Depois de um extenso e exaustivo  interrogatório com a menina do guiche descobri que estávamos na rua e na chuva. A gente se olhava e ria. E foi ai que descobrimos que havia um onibus Pra sair, um onibus pra Salvador, sentido oposto do nosso destino. Rapidamente a produção tomou as devidas providencias. Marion acionou seus contatos e conseguiu, com seu futuro namorado, Caio, , acomodação para cinco mendigos, no apartamento da avó do rapaz, que estava viajando. Todos de acordo, as passagens foram compradas. E lá fomos nós Pra Salvador. As duas horas que separam Cachoeira de Salvador não poderiam ter sido mais...intensas.
O bagageiro não tinha mais espaço, por que uma familia estava com uma barraca enorme de feira Pra ser transportada, nao so a barraca, mas todo o material a ser vendido. Ja dentro do onibus varias pessoas que viajariam de pé me deixaram feliz com meu assento ao lado do banheiro. No banco atras de mim cinco pessoas dividiam dois assentos, e uma senhora transitava alegremente da poltrona da janela para o corredor, onde seguia empurrando as pessoas que estavam em pé, brigando com alguém chamado Rodrigo, que estava sentado lá na frente. Fazendo questão de sempre puxar o meu cabelo quando levantava do banco.
 Aquele era o tipo de ônibus onde o número da poltrona indicado na passagem não tem valor algum. Na minha frente houve um leve desentendimento quando uma mulher fez valer o seu direito e expulsou um homem do seu lugar. Esta mesma mulher sentou, abriu sua super bolsa e enquanto o ônibus seguia começou um ritual que eu não estava entendendo muito bem, começou a pentear o cabelo de um jeito esquisito, meio na horizontal, e de repente eu percebi que ela estava fazendo uma touca. Talvez estivesse adiantando as coisas, pra chegar em casa e dormir. Pra quem não sabe, touca é uma técnica dazantiga  para preservar a escova. Consiste em pentear o cabelo, prende-lo na horizontal, em volta da cabeça, e prende-lo com grampos. Confesso, fiquei de cara, mas quando ela sacou a touca e colocou na cabeça...não qualquer touca, uma original touca feita de meia calça, e colocou na cabeça, admirei aquela mulher. Só não soube se tinha presenciado um excesso de vaidade ou seu total desapego. 
Enfim, a viagem seguia, as luzes apagadas, eu dormi de um lado e a Marion de outro. Caue, Guinter e Rodrigo estavam espalhados pelo ônibus. Tudo ok, até eu acordar com uma gritaria. Alguma coisa acontecia na parte da frente, eu não conseguia ver nada. Vários passageiros estavam aglomerados e xingando alguém. Muitas vozes de mulheres bravas. A Senhora atras de mim estava frenética, quicando no corredor. Um alvoroço. Um pouco depois, quando toda a indignação e raiva estavam virando piada, entendemos  que um homem estava discutindo com a mulher, a briga ficou feia, tinha uma mala envolvida na discussão, ele levantou, puxou a mala, ela não deu (serio, as notícias chegaram assim) puxou de volta, ele bateu nela, alvoroço, as mulheres gritam, querem pegar o cara, muitas ofensas, eles sentam, tudo parece se acalmar. Não, espera...ele deu um tapa nela, novo alvoroço, um gringo pega o cara pela garganta e senta ele de volta no lugar, todo mundo grita, todo mundo ri. A senhora do assento de trás esta em êxtase, corre no corredor Pra lá e Pra cá, gritando que "tem que jogar ele Pra fora do ônibus". Eu só conseguia rir, aquilo era muito surreal. Lembro da Marion dizendo que nunca veria aquilo na França, feliz da vida por estar no Brasil.
No fim das contas, o motorista parou,  segundo o Caue e Rodrigo que estavam bem no banco de trás, em cima dos fatos, o cara levou vário tapas e bofetões das mulheres que estavam por perto, levou um pescoção do motorista e foi jogado Pra fora do ônibus. Na chuva. Em outra cidade. Sem a mala e sem a mulher. Os comentários seguiram animados até Salvador, sem pudores pelo fato de a mulher ainda estar no ônibus.
Continua...
Nossa, muita coisa. To saindo agora, Pra viver mais um pouco, rs!

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