quinta-feira, 30 de maio de 2013

Quem chamou pra entrar?

Hoje foi dia de contato com a fauna local.
No segundo episódio da série aventuras e desventuras na cozinha o prato foi peixe assado na folha de bananeira.
Sim, feito por mim.
O processo é bem simples, a única questão foi o jeito como o peixe ficava me encarando durante todo o preparo e aplicação do tempero. Um olhar de censura, e eu ali, metendo minha mão temperada em tudo quanto é lugar.
Como ja foi dito, o peixe é assado na folha de bananeira. Que fica...na bananeira. Recebi um facão, mais ou menos do meu tamanho, e a missão de pegar a folha. Cara, nunca me senti tão habilidosa. Aquele facão era o poder.
Claro que foi ridículo, poderia ter arrancado a folha com a mão, mas de facão em punho foi muito mais desafiador.
O peixe foi devidamente temperado, embalado na folha, e de olhos arregalados adentrou ao forno. E ficou uma delicia. Ainda há esperança para mim.
E agora a noite, enquanto escrevia estas linhas, sentada na cama, fui interrompida por um barulho estranho.
Silêncio!
O barulho novamente.
Fui averiguar e descobri um sapo enorme debaixo da minha cama. Pois é, um sapo, mas este não é qualquer sapo. Este sapo merece respeito. Inclusive vou dar um nome a ele. Rodolfo.
Desde que cheguei aqui já vi Rodolfo ser expulso de todos os cômodos desta casa. Ja foi jogado longe, muito longe da casa. Mas, Rodolfo não tem vergonha na cara, nem amor próprio, daí volta. Empresa volta. E volta rápido.
Piscou, olha o Rodolfo atras da porta do banheiro.
O bicho é tão cara de pau que já foi pego parado no corredor, em frente a porta do quarto, esperaaaaaandooooo que alguém abra e ele seja convidado a entrar. 
Indignada! Rodolfo é brasileiro e não desiste nunca.
Hoje Rodolfo foi mais uma vez pra rua, pro mato no caso. Levei-o até a varanda ( ele vai voltar mesmo), carinhosamente com a ajuda da vassoura.
Boa noite, até amanhã Rodolfo!

quarta-feira, 29 de maio de 2013


Com a mão no cacau

Maçã? Banana? Coisa pra menininho de prédio. O negócio aqui é graviola, cupuaçu, cacau e outras que nunca tinha ouvido falar. Frutas que eu só conhecia de nome, e não acredito que sobrevivi tantos anos sem provar.
De todas estas delicias, me apaixonei pelo cacau. 
Pensa em uma coisa boa.
Pra recuperar o tempo perdido, eu e minha gula, estamos comendo cacau desde que cheguei na comunidade. Como se não houvesse amanhã.
As sementes são muitas e grandes, mas poupa da fruta é muito pouca, por isso gente gulosa como eu, precisa comer vários quilos. E a única coisa mais deliciosa que cacau é o meu de cacau. O ouro, como diria Laíssa, é um suco feito somente com a poupa do cacau. Zezuis, como é bom!
Mas o contato inicial com as frutas aqui exigiu  um certo trabalho. Foi engraçado como a menina do asfalto se deslumbrou com o processo magico de caminhar ate o cacaueiro, esticar o braço e pegar a fruta. Simples assim.
Fiquei ate cabreira, como se o feirante fosse sair do mato gritando " MOÇA BONITA NÃO PAGA, MAS TAMBÉM NÃO LEVA".
Pensava que era proibido comer frutas e legumes que não fossem "colhidos" na barraca da feira ou no mercado. Mas enfim, voltemos ao cacau, pois não satisfeita em comer vários, ainda aprendi a fazer seu principal derivado,  pelo menos para mim. 
Chocolate minha gente! Aprendi a fazer chocolate caseiro!
Pegamos as sementes secas, torramos e passamos algumas vezes no moedor ( da um certo trabalho). O cacau vira uma pasta, com um gosto muito forte,  onde misturamos mel, creme de leite caseiro, óleo de coco e algumas outras coisas.
Separei um pouco da pasta pura e fiz um brigadeiro com castanhas e leite condensado, o único ingrediente industrializado, no mais, é tudo daqui.
Bom, nos empolgamos e fizemos uma orgia gastronômica. Pão caseiro, receita deliciosa dos novos amigos uruguaios ( que não conseguiam falar pão, rs), e pizza, muita pizza, de vários sabores e misturas. Inclusive de chocolate.

E hoje o dia começou com despedida. Martins, Nadine e Matias, os amigos uruguaios foram para Pernambuco. Provavelmente esta foi somente a primeira despedida no caminho.   Muita risada e conversa nestes poucos dias. Boa viagem para vocês!

segunda-feira, 27 de maio de 2013


   
   Aldeia

Existem duas forma de chegar a região de João Rodrigues, através do Rio ou por uma estrada, onde só os forte sobrevivem. A estrada, que foi aberta pelos moradores, começa a alguns quilômetros após a saída da rodovia, e é linda. Uma estradinha que nasceu de uma trilha, que segue mata atlântica a dentro.
Foi atraves desta estrada que eu cheguei. Fui inundada de felicidade quando vi que era a mesma estrada linda e surreal que vi, de forma muito doce, em janeiro. Aquela estrada tambem me levava a uma casa com sorrisos, mas a estrada de hoje me leva a outros lugares.  A mesma estrada, que me leva a caminhos diferentes, que me leva à descoberta.
Estou em Itacaré ha três dias, ha dois cheguei aqui nesta comunidade, cercada por quilombos e por um rio, o rio das Contas, rota do cacau.
A região é chamada de João Rodrigues, mas não esta no mapa. Oficialmente faz parte da zona rural de Itacaré. O não oficial me agrada mais.
Aqui o tempo é diferente, um fuso horário próprio, com algumas peculiaridades, como o rio, que  certa hora do dia segue em uma direção, então para pra descansar, e passa a seguir na direção contrária. Eu achei mágico, mas na verdade o rio das contas tem uma ligação com o mar, e a maré imfluencia parte de seu curso e seu nível. E ele sobe e desce, todos os dias.
As pessoas aqui tambem são assim, e quem esta de passagem acompanha, variando entre calmaria, conversas, musica e muitos projetos de estruturação da comunidade, que por enquanto atende por Aldeia.

sexta-feira, 24 de maio de 2013


São Paulo

Não podia ter sido mais paulistano. Não podia ter sido mais inusitado e mais simbólico
Andando despreocupadamente, deixei que a garoa caísse sem reação, se não aproveitar a delicia da sensação,  fato inédito na vida desta sua humilde amante.
Aproveitei a despedida como quem recebe um abraço de boas vindas. 
Gozei o momento.
Te aproveitei em todos os momentos. Com amor e fúria.
Te amei tanto, te amo.
Amo tanto que te engulo, te absorvo, te consumo
Me consumo
com tudo isso e todos estes
Absorvo todos os amores, todas as loucuras e com naturalidade a ânsia compartilhada
No seu processo seu concreto fez dura demais a simplicidade que parecia ser ser
Estou tantas, que entrelaçadas se abraçam, se agridem, sabotam, variando de acordo com a cor do céu e a temperatura
Agora já não comporto.
 Uma história em cada esquina, que pela mão, vem me mostrar  701A.
No trajeto longo sempre passo pelo prédio com meu nome, e com o meu tamanho. 
Hoje foi diferente.  Vi que não sou feita disso, e por isso não posso mais me embriagar . 
No excesso dessa ira, na lira paulistana que sou, já não comporto todas as pessoas em que estou.
 Então vou. Expandir pra poder somar.
Me afogando de você emergi, e levarei comigo só o que for bom, só o que for meu. Você vai junto, não por que eu te leve aos pedaços, mas por que pequenas de suas pedras fazem parte desta edificação.
Hoje já é diferente, vou absorver outra sensação.