quinta-feira, 15 de agosto de 2013

As agruras de hoje, que ainda bem, só duram hoje

Martim Luther King tinha um sonho, eu tenho um problema. 
O caminho mais eficiente para a decepção é idealizar. Eu sei disso, vocês sabem disso, todos sabemos, mas eu insisto no cavalo capenga da idealização.
Idealizei um Vale do Capão que não encontrei, resultado, decepção.
De ouvir falar em como o lugar era especial e lindo, esqueci que as coisas praticas da vida existem aqui também, e assim como os iluminados de alto paraíso, aqui as pessoas também precisam de dinheiro. Cheguei e fui logo em busca de um emprego. A Vila é bem pequenininha, então não é muito difícil rodar por todos os comércios em busca de uma vaga. Bati em todas as portas, e nada. A já velha conhecida condição da baixa temporada. Com tantas negativas e falta de perspectiva, me deixei desesperar. Rolou um cansaço acumulado de coisas que eu não deixava emergir, e que ali ganharam espaço, e foram mais fortes. Uma fragilidade, uma preguiça de resistir e simplesmente encontrar uma solução. Fiquei no vazio da necessidade, me sentindo sozinha, e estava. Em um caminho que eu mesma escolhi. Onde  la garantia sou yo, parafraseando Marília Costa. Parei um minuto, dei uma respirada e lembrei da minha mãe: "quem chora não chega a lugar nenhum" . Chorei mesmo assim. Mas foi um choro de descarrego de toda aquela angustia e desolação daqueles breves minutos. Sim, isso tudo eu senti andando pela cidade, que é muito curta, então foi rápido. Um breve despencar.
Logo avistei o motorista do ônibus em que viemos de Seabra pro Capão, e fui me informar sobre os horários, uma única viagem por dia, saindo da vila as 06:00.  Se nada acontecesse, eu iria embora no dia seguinte.
Eu poderia ficar nas casa do Passarinho, que me recebeu muitíssimo bem. Ele mora em uma casa que esta abandonada há alguns anos. Seria uma ocupação, mas o dono autorizou a permanência dele e de um amigo. Ele esta lá ha dois meses, nos quais ele passou a maior parte do tempo viajando. A casa esta bem abandonada, vazia, sem banheiro e muito sinistra. Enfim, eu com minha frescura, que nem sei se devo chamar assim, na verdade, na minha vontade de viver as coisas, e no meu caminho de aprendizado, ainda não cheguei neste desapego. Ta certo que dormi no chão de baú de caminhão no trajeto, em escola municipal invadida durante o festival, em quintal alheio, chão da casa de desconhecidos e etc. Mas não podia contar com a possibilidade de ficar na casa do Passarinho por muito tempo.
Estava decido, a manhã seguinte seria a manhã da partida.
Passei por um padaria na volta, Pra comprar um pão integral que o Passarinho havia pedido. Lá fiz mais algumas tentativas , assuntando por ali sobre um emprego. Foi ai que eu conheci Dula, Kordula. Uma austríaca, que esta no Brasil ha muitos anos, e no capão ha 15.
Ela pediu Pra que eu fosse ate seu sítio no dia seguinte, Pra conversar. Eu aceitei.
Peguei meu pão e fui embora. Ainda queria ir embora, mas por que não ficar e ver no que dava?
Fui, conversamos, e foi uma conversa linda e emocionante. Nada profissional.
Uma pessoa muito especial e diferente, como o significado do nome já diz, "caminho do coração", e que coração.
Na conversa descobri que ela é uma terapeuta e massoterapeuta, conhecedora de técnicas alternativas. E ela que precisava de ajuda com seu sítio, descobriu que eu era produtora em SP, e abriu um enorme sorriso, pois estava precisando muito de alguém para auxilia-la na produção de congressos e retiros. Me ofereceu casa e comida em troca da ajuda com o sítio e a organização de seu trabalho. 
O meu novo lar é maravilhoso, meu quarto é dentro de um templo onde ela atende seus clientes. O chuveiro é frio e ao ar livre. O banheiro, é um banheiro seco, mas de forma alguma eu posso reclamar. Só posso agradecer. A adaptação tá rolando. Na verdade já até acostumei. Menos com o banho frio.
No momento da nossa conversa eu estava com o coração apertado. Mas logo me desmanchei diante daquele caminho que meu coração recebera.
Acreditando que nada é por acaso, vou viver esse encontro. Certa de que não estou sozinha, tem um universo inteiro a meu favor.

Um comentário:

  1. Estou feliz por te ver entregue, em processo de total descoberta :)
    Confia! que está tudo no lugar certo... mantem essa sinceridade no coração.
    ja falei, mas vou repetir, fico admirada com a clareza que você enxergar a sí mesma.
    :)

    Firmeza na caminhada e silencio no coração!

    Beijos
    Laissa

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