segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Segue o seco

No meio de tantas figuras que conheci em Alto Paraíso, estavam as flores Nati e Gabi, como já disse. Não tivemos muito tempo próximas, mas gostei das duas logo de cara. Em minha primeira vez na casa delas, ja comecei a dar palpites na decoração. Elas entraram na onda e fizemos todo um projeto de reestruturação da casa, incluindo a exclusão de algumas paredes. No fim fiquei devendo as  prateleiras diferentes que  ainda estão em fase de desenvolvimento na minha cabeça. Estas prateleiras começaram toda a conversa sobre a decoração, quando disse que Pra mim era uma idéia recorrente sempre que entro na casa de amigos e novos conhecidos nestes últimos meses. A maioria são viajantes, que mesmo estando a meses no lugar, não estão acostumados a acumular coisas, pois podem resolver ir embora a qualquer momento, mas ao mesmo tempo suas casas, ou quartos, são sempre desorganizados, alguns são bem organizados, ok, mas todos são sempre sem identidade, com as paredes lisas, sem nada que lembre uma vida em andamento no ali. E por algum motivo eu sempre associo prateleiras para ajudar nesta mudança. Enfim, estou devendo prateleiras para as duas flores do cerrado, de quem sentirei saudades.
Outro que conheci no susto foi Gastão, vulgo  Passarinho, como já disse aqui. 
Um uruguaio amigo do pessoal. Morava em Alto Paraíso, mas ha alguns meses mudou de Chapada, e foi pro Vale do Capão.
Eu pedi alguém Pra me acompanhar na carona, de volta Pra Bahia, e veio ele. De repente.
No dia 06 de Agosto, eu e Passarinho nos encontramos muito cedo na rodoviária de Alto Paraiso. Tenho que frisar que ele se atrasou meia hora,  e eu estava lá pontualmente as 05:30 (sim, eu consigo chegar no horário. Só por hoje)
Fomos Pra estrada, da coisa fluiu bem mais fácil do que eu esperava. Três caronas, e em um dia e meio estávamos aqui.
Chegar nos lugares é bom, mas o caminho tem se mostrado muito, muito especial Pra mim. Na estrada é sustiver ter um misto de sentimentos de forma intensa. Acho que é o maior exercício de auto conhecimento com o qual  me deparei ate hoje. Isso sem falar na paisagem.
Me emocionei com a beleza das montanhas, e são muitas entre essas duas chapadas. Me se ti pequena vendo aqueles lindos gigantes de pedra, cada vez maiores a medida que me aproximava. Tão perto, e tão grande. Em tamanho e beleza. Construções que realmente só podem ser divinas, por que nada explica o encaixe e oposição de algumas pedras, que pela lógica humana seriam inviáveis em sustentação e durabilidade. Mas o cara que montou isso aí...esse cara manja.
Ao longo da BR 242 é possível ver sempre um conjunto de montanhas recortadas no horizonte, com um céu azul de fundo. Também da Pra ver a mudança na vegetação. Antes de chegar nessa estrada vi desertos a perder de vista, terras secas,totalmente desmatadas para o plantio de soja ou algodão. Uma das várias e grandes tristezas resultantes da mão do homem. Nem sequer uma árvore, um chão vermelho, que naquele calor, parecia pegar fogo. Até onde a vista alcança. Desolador.
Na 242 seguia o seco. O cerrado continua por uma boa parte da Bahia, e o mesmo que vi na ida, vi na volta. Boi morto na beira da estrada. Um gado magro dentro das cercas, com um capim aqui e outro lá, seco, que não tinha nem cor. Ali não tinha a opção, de derrubar ou não derrubar. Ali não nasce, não cresce.
Gente andando no meio de um nada, onde muitos km separam os vilarejos de beira de estrada, e a paisagem não alimenta a esperança, com seus potes, seguindo em busca de água. Onde? Nem imagino.
Vários jegues parados em volta de uma caixa d'água, enquanto os donos abastecem seus baldes e galões.
E o caminho seco, seco de tudo. 
Fez rever muitas coisas, muitas prioridades e atitudes. Fez pensar ali dentro, onde dói a mudança, que é tão pequena e ridícula perto das agruras desta vida, desta gente que sofre quieta e parece tão amarrada na falta de condições de mudar.
Ali eu quis ser menos, menos tudo que me infla e me impede de enxergar. Mas não de fazer, por que lamentar não enche barriga. E nem faz água brotar.
Alguns km a frente o cenário mudou . As montanhas ainda estavam todas lá, mas o céu cardado de nuvens no horizonte indicava que a Chapada Diamantina  já se aproximava.
Senti a fisgada da brincadeira dos Deuses do Olimpo conosco, um jogo de mau gosto.  M uma distancia relativamente curta, seguindo pela mesma estrada, a diferença climática seja tão gritante, e tão desproporcional.  Depois de chegar no Capão, eu viria a saber que só recentemente a Chapada saiu de uma seca de dois anos. Onde a beleza não secou, mas a chuva ao era suficiente Pra molhar a terra, e nem Pra manter todas as nascentes. E muito se perdeu nos incêndios na mata da Chapada.
Eu e Passarinhho chegamos no Capão por volta das três da tarde. EE. Baile mostrando e explica do coisas no caminho. Quando chegamos em Seabra, eu tive que fazer um grande esforço para descer. O caminhoneiro que nos deu carona de Goiás até ali, Wilson, estava indo para Recife. Senti uma pontada das coincidências que não são coincidências me pegar, mas tive medo de chegar sem nada preparado e com pouca grana em uma cidade grande. E resolvi fazer como disse minha amiga Tati, "Pra ir na dúvida, fica na certeza". Então segui pro Vale do Capão, cheia de certeza. Duraria pouco, mas o que importa é o momento, e naquele momento eu estava certa da minha certeza.




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